segunda-feira, 8 de julho de 2013

Dois 'casos de polícia' comandam o Carandiru sem grades

A farra aérea dos dois 'casos de polícia' que comandam a Casa do Espanto (Senado Federal) e o Feirão da Bandidagem (Câmara dos Deputados)

Crédito da imagem: Antonio Cruz
Tanto pelo número de páginas quanto pela abrangência dos delitos, que vão de A a Z nos atropelamentos do Código Penal, o prontuário de Renan Calheiros lembraria um dicionário caso fosse transformado em livro. Se a lei valesse para todos, o cangaceiro de terno e gravata teria perdido há muito tempo o direito de ir e vir. No Brasil do lulopetismo, vai e vem em aviões da Força Aérea Brasileira. De graça.

Nesta quarta-feira passada, descobriu-se que Renan, valendo-se das prerrogativas de presidente do Senado, requisitou um jatinho da Aeronáutica para comparecer ao casamento da filha de Eduardo Braga, líder do governo na Casa do Espanto. Embora represente o Amazonas e more em Manaus, Braga decidiu que a noiva Brenda merecia uma festança na praia de Trancoso, no litoral baiano.

No dia 15 de junho, o cliente VIP da FABTur decolou de Maceió no fim da tarde, pousou em Porto Seguro menos de uma hora depois, foi de carro oficial para Trancoso, comeu do bom e do melhor, bebeu sem medo de leis secas, voltou para o aeroporto no carro chapa-branca, embarcou na madrugada rumo a Brasília, desfrutou do sono dos sem-remorso e acordou achando que a vida vale a pena. Principalmente para portadores de salvo-conduto para delinquir.

Já o parlamentar Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara dos Deputados usou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para levar parentes e amigos ao Rio de Janeiro. O grupo foi assistir à final da Copa das Confederações e utilizou as redes sociais para registrar o momento.

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, um jato C-99 da FAB saiu sexta-feira de Natal, Rio Grande do Norte, em direção ao Rio de Janeiro. No avião, estavam sete parentes do deputado: seu filho e sua noiva Laurita Arruda e mais cinco parentes de Laurita. No voo de volta, no domingo, um amigo de Laurita também pegou carona no avião.

Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara (de camisa azul e óculos), ao lado de sua noiva Laurita Arruda, na final da Copa das Confederações. Levou num avião da FAB, rota Natal-Rio-Natal, parentes e amigos, para assistir o jogo da seleção


Em nações politicamente adultas, Renan Calheiros e Henrique Alves não passariam da primeira anotação no prontuário: antes da segunda patifaria, seriam transferidos da tribuna para um tribunal, teriam o mandato cassado e só voltariam ao Congresso para depor em alguma CPI ou, depois da temporada no presídio, fantasiados de turistas. Num Brasil com cara de clube dos cafajestes, o senador alagoano preside a Casa do Espanto (Senado Federal) e o deputado potiguar administra o Feirão da Bandidagem (Câmara dos Deputados). Faz sentido.

Enquanto Henrique Alves e amigos assistiam o jogo, do lado de fora do Maracanã, milhares protestavam contra a corrupção no país
A seita lulopetista aprendeu que folha corrida é currículo, integridade é defeito e honra é coisa de otário. A eleição do presidente da Câmara ou do Senado comprova que os congressistas votam no candidato que lhes pareça o pior entre os piores. A galeria dos eleitos depois do advento da Era da Mediocridade confirma que, quanto mais alentado for o prontuário, maior será a chance de vitória.

Contemplada do lado de fora, a sede do Parlamento brasileiro é uma bela criação da grife Niemeyer. Visto por dentro, sobretudo por quem conhece a face escura dos inquilinos, o lugar onde deveria haver um Congresso é reduzido a um acampamento de meliantes com um terno escuro que não se dá com a gravata, sorriso de aeromoça e a expressão confiante de quem confunde imunidade parlamentar com licença para pecar. Augusto Nunes

(*) Segundo o Decreto nº 4244/2002, aviões da FAB podem ser utilizados por autoridades apenas quando houver "motivo de segurança e emergência médica, em viagem a serviço e deslocamentos para o local de residência permanente".

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