ONG estima que já são mais de 200 casos; homens se mobilizam para proteger as mulheres nas aglomerações
Voluntários usando coletes amarelos protegem mulheres na praça Tahrir (Foto: AP) |
Ao observar a multidão de manifestantes na Praça Tahrir, centro do Cairo, é possível notar algo diferente: no meio do protesto há um círculo rodeado por um corredor onde não há ninguém, exceto alguns homens vestidos de amarelo.
O círculo é formado por mulheres e, no corredor, os homens são guardas voluntários dispostos a proteger as manifestantes. Os homens do outro lado do corredor, os primeiros antes da grande massa masculina que participa da manifestação, também ajudam a isolar as mulheres.
Os guardas voluntários são necessários pois, para as mulheres do Egito, protestar pode ser arriscado: entre o dia 28 de junho, quando a última onda de protestos começou, e o dia 3 de julho, dia do golpe contra o presidente Mohammed Morsi, foram registrados 180 casos de ataques sexuais, segundo números da Anistia Internacional.
"Calculamos que são mais de 200 agora, sem incluir os muitos que não são registrados", afirmou à BBC Mundo Diana Eltahawy, investigadora da Anistia Internacional no Cairo.
O problema do abuso sexual não é novidade no Egito. "O que mudou foi o nível de violência mostrado", acrescentou Eltahawy. Da BBC
Rapidez
"Nunca imaginei o que me fariam em apenas alguns minutos. Fizeram um círculo fechado ao meu redor. Começaram a tocar cada parte de meu corpo, a violar cada parte de meu corpo. Estava tão traumatizada que só conseguia gritar. Não podia falar nem pedir ajuda, apenas gritar", afirmou Hania Moheeb, vítima de ataque em um vídeo gravado pela ONG internacional de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch.
"Se aproveitaram que eu estava no chão, me pegaram, me viraram, colocaram minhas pernas para cima e me estupraram como quiseram", relatou Yasmine El-Baramawy, outra vítima, no mesmo vídeo.
"Se aproveitaram que eu estava no chão, me pegaram, me viraram, colocaram minhas pernas para cima e me estupraram como quiseram", relatou Yasmine El-Baramawy, outra vítima, no mesmo vídeo.
Segundo a analista da Anistia Internacional, no meio do caos é difícil saber quem está tentando salvar a vítima e quem está atacando.
"Todo mundo estava me agarrando, fingindo querer me tirar da multidão, mas na verdade estavam me atacando", disse Shorouk Al Attar há algumas semanas à BBC.
Shorouk foi vítima de um destes ataques junto com a irmã perto da praça Tahrir durante um protesto em 2012.
"Não se pode evitar"
"Se está aqui e vê uma menina vestida de forma indecente, o que vai fazer? Não se pode evitar", disse a Maqbool um jovem que estava na praça com outros jovens.
"Estamos deprimidos, não encontramos trabalho e nem temos dinheiro, o que você espera?", questionou outro.
Vários dos jovens com quem a BBC conversou confessaram que iam para a praça olhar as mulheres. E, apesar de não admitirem envolvimento em ataques graves, a atitude demonstra que eles não consideram a violência contra as mulheres um problema, e os estupros são até motivo de piadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário